Folha de São Paulo da semana passada. Na capa, vê-se a manchete:
Ministros embolsam verba de mudança sem precisar.
Na foto logo abaixo, vê-se o Lula de costas, numa situação algo desconfortável mas ativa, pulando de um barco para um píer, segurando na mão do presidente francês Sarkozy que, por sua vez, mostra a cara automaticamente sardônica de sempre.
Abaixo da foto, há uma legenda em vermelho referente à cena de Lula e Sarkozy, dizendo MÃO AMIGA.
Mas o melhor mesmo está na legenda abaixo disso:
“Lula e Nicoilas Sarkozy se encontram na Guiana Francesa; o francês propôs cooperação militar, e o petista se disse a favor da divulgação de gastos com cartões corporativos na internet”
Abaixo da foto, há uma legenda em vermelho referente à cena de Lula e Sarkozy, dizendo MÃO AMIGA.
Mas o melhor mesmo está na legenda abaixo disso:
Puta. Que. Pariu.
Em primeiro lugar, o artigo faz indiretamente o leitor desinformado incorrer no erro de pensar que os gastos dos cartões já não sejam desde sempre divulgados na internet (foram descobertos só por isso, pô) e que o Lula pode algum dia ter sido contra isso.
Em segundo lugar, O QUE É QUE ISSO TEM A VER COM O SARKOZY E O LULA, CARALHO? A negociação de Lula com o presidente-conservador-esquisitão-catador-de-modelo é (e não só ela) mil vezes mais relevante politicamente do que essa as irregularidades dos cartões, que já foram denunciadas e estão em investigação e estão visivelmente recebendo mais cartaz do que merecem, e por mais tempo do que deveriam.
A safra de escândalos está tão baixa que o jornal mais lido do Brasil tem que ficar nisso?
Pergunta retórica. Claro que tem. Porque, além de ser do interesse de muitos, é isso que muito brasileiro quer ver. Um assunto fácil de acompanhar (fácil mesmo: tá na internet, caramba!) e fácil de se indignar. Quando não é messias, político é que nem juiz: o povo gosta mesmo é de xingar. Afinal, você pode culpá-lo pelo fracasso do seu time. Juiz quando rouba mesmo, então, é muito mais gostoso: reveste o ressentimento vago e constante com a luz da ira justa dos céus.
Nos cartões, a imprensa encontrou uma fonte milagrosa de escandalinhos no atacado. Fácil de ver, fácil de apurar, fácil de denunciar.
Apelo mudo à grande imprensa: por favor, encontrem verdadeiros escândalos e parem de fabricar escandaletas. O Luis Nassif está fazendo isso agora, expondo as ligações escusas entre a mais lida revista do país, “escândalos” fabricados e o enlameadíssimo Daniel Dantas. Contudo, além de extremamente complexos e difíceis de seguir – porque envolvem alto grau de dissimulação -- escândalos verdadeiros acontecidos dentro do próprio jornalismo são sempre embaraçadores – não tanto para a categoria profissional, mas principalmente para os donos de jornal.
Um alento, nessa mesma edição da Folha de São Paulo, é a coluna de Marcelo Coelho na Ilustrada falando que “Marcathismo das miudezas é forma de fugir do debate”. Expondo o que todo mundo que pensa um pouco já percebeu – esse assunto dos cartões já deu o que tinha que dar e é só a falta do que falar e a preguiça de investigar (e ler) temas mais complexos e importantes explica a insistência desmedida da imprensa nele. E a reforma tributária? Mexe com a vida do país inteiro, mas é assunto meio complicado demais para manchete.
Pergunta: seria uma crítica do colunista à própria Folha (porque investir nessa mesquinharia de venda fácil é o que ela faz nessa mesma edição) ou se encaixa numa pequena “compensação” que o jornal ofereceu ao público que está disposto a envolver mais de meia dúzia de segundos e neurônios na reflexão acerca do assunto?
Um comentário:
Notícia velha, indignação recente. No Wilbor, tudo tem um certo delay.
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