sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Retrospectiva literária 2007 -- 1: O LADO B DA LUA

(inicio neste post uma curta série comentando os livros mais interessantes que eu li e 2007 (que não são livros lançados nesse ano, entendam bem.
E este post vem também com um pouco da históra de um relacionamento...)


HARRIS, John. The Dark Side of The Moon: os bastidores da obra-prima do Pink Floyd. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2006.

Sou desconfiado com histórias e livros sobre bandas (mesmo sem ter lido nenhum antes). Embora tenha ficado empolgado quando soube do lançamento deste acima referido, um dia peguei-o numa livraria, folheei rapidamente e não fiquei muito impressionado. Não sei bem o porquê. Acho que esperava superfotos, sei lá. Embora fosse sem dúvida alguma uma das bandas mais importantes para meu desenvolvimento pessoal e musical, eu andava afastado do Floyd já havia alguns anos... A fase se querer saber tudo sobre a banda já ocorrera aos 15-17 anos (parcialmente sanada então por publicações que hoje sei serem insuficientes). Talvez me parecesse meio anacrônico naquele momento querer um livro sobre a banda, talvez eu tivesse medo de ser alguma vontade não-declarada de retornar à adolescência.
(fatos: a primeira fita cassete que gravei, aos 11 anos, foi de The Wall. O primeiro LP adulto que tive também, aos 12, foi The Wall. O primeiro CD que tive não foi do Floyd -- foi do Simply red -- mas por uma simples questão de ordem na qual os presentes de natal de 1993 foram abertos. E vários outros fatos com Floyd...)
....mas como everything under the sun is in tune...

... na semana de meu aniversário, em abril, comprei pela primeira vez uma Rolling Stone brasileira -- que um amigo meu dissera ser uma revista "boa pra caralho" -- e ela tinha a Marisa Monte na capa. A reportagem sobre a Marisa Monte não era lá essas coisas (laudatória demais, na minha opinião); mas dentro (e anunciada na capa), havia uma ótima reportagem especial sobre... Pink Floyd. Pois bem: numa viagem (que visava ir de encontro à minha namorada, com quem comemoraria meu aniversário) li a reportagem da RS avidamente. Eu sabia (ou achava que sabia...) já várias e várias coisas sobre a história da banda; mas a reportagem, muito bem escrita, trazia informações para mim novas, curiosas e relevantes para se compreender melhor o que realmente foi a banda -- e mais importante, para qual foi a gênese do som da banda.
Fui tomado de uma súbita saudade do Floyd, e de um desejo de reouvi-lo, com outros ouvidos... já com a compreensão mais ampliada que hoje tenho do que eram os anos 70. O interessante dessa saudade é que havia a possibilidade de satsfazâ-la facilmente: além de uma discografia em Mp3 (cortesia contemporânea pirateada que minha mãe me deu no início do ano), eu poderia revisitar os meus próprios CDs do Floyd, que estavam na casa de minha namorada...
E no meu aniversário, como que a responder a meu renovado interesse, minha graciosa querida me dá de presente justamente o livro do qual eu antes havia desistido.



Sem propriamente resenhar o livro, vamos apenas à impressão geral: é um livraço.

A qualidade da pesquisa, da argumentação e dos detalhes revelados é cativante. A estrutura explicativa do livro, digna de uma (ótima) dissertação de mestrado, procura mostrar The Dark Side Of The Moon como não apenas o "melhor álbum e seus segredos", mas como um momento-chave na história do Floyd.

Ou seja: não é apenas a história de um álbum, é antes a história completa das origens e da "essência" do Pink Floyd vista a partir do que seria sua criação e seu momento mais relevante.

Só pra dar o gosto de um dos pontos de argumentação mais interessantes: Pink Floyd ´até hoje uma banda com fama de "intelectualizada", "hermética", "viajante", "psicodélica". Na compreensão de John Harris, entretanto, a beleza e sucesso de The Dark Side Of The Moon, não seriam metáforas obscuras ou mistérios escondidos nas vozes de conversa que povoam o disco -- nem em teorias estapafúrdias de conspiração como as que ficavam juntando "o Mágico de Oz" com o disco (embora eu recomende fazer a junção dos dois, é divertidíssimo). O sucesso e mérito de Dark Side estariam no fato de ser o álbum
mais cristalino e bem amarrado e, justamente, o mais claro e direto da banda em termos musicais e poéticos.

Efim, este livro de John Harris foi uma descoberta, muito melhor do que eu esperava. Foi um dos livros que mais gostei de ler em 2007.

Recomendado para:

1. Qualquer grande fã do Floyd.

2. Fãs de rock e de música em geral que gostam de saber como esta é feita e em que meio cresce;

3. Fãs da décadas de 60/70 e do cenário (contra)cultural que se formou então;

4. Interessados no processo de criação e desenvolvimento de obras artísticas em geral;


5. Fãs de uma pesquisa jornalística bem-feita, bem acabada e que não se perde na polêmica fácil e nem no discurso laudatório, na puxação de saco;

6. Interessados nos motivos que fazem um disco fora de época e estranhamente intelectualizado estar entre os mais vedidos mesmo depois de 35 anos de seu lançamento.


7. Fãs tradicionais ou futuros do fabuloso, seminal e -- a esta altura -- clássico álbum do Pink Floyd.

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There's no dark side of the Moon, really. It's a matter of fact it's all dark.



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