terça-feira, 11 de setembro de 2012

Voltando ao assunto

STF debate se há racismo em livro de Monteiro Lobato usado em escolas

Eu já havia tocado no ponto antes aqui e sugerido a leitura deste texto aqui ..Mas já que esse papo ainda corre e um monte de gente fica gritando "censura, censura" por aí, retomo*.

Nessa polêmica toda dos "conteúdos racistas" presente em livros do Sítio do Pica-Pau Amarelo, alguns fatos têm que ser estabelecidos sobre Monteiro Lobato: ele É um ícone cultural; ele É um escritor importante da literatura infantil brasileira; ele É (era) racista; e -- o que menos se discute -- ele É uma "Trademark" do mercado editorial e de entretenimento (Global) brasileiro.
Eu mesmo li vários de seus livros, e gostava, e percebia, mesmo com 11 anos, que tinha um monte de opiniões bem "das antiga" lá, bem como umas "farpas" claramente racistas.

Mas vamos lá: na boa, até agora não vi ninguém falando de "censurar" os livros -- qualquer criança que quiser lê-los pode ir a uma biblioteca e pegá-lo. Posso estar desinformado, mas o que vi foi gente defendendo que certos livros de Lobato não façam mais parte dos livros adotados para leitura escolar.
A questão é que, se um livro for adotado por uma escola, significa que, numa determinada classe, as crianças podem ter que ser "obrigadas" a lê-lo (ou seja, vai valer nota, etc.). Se levarmos isso em conta, ocorre uma inversão: "luta" das ONGS em questão não é pela proibição de "Caçadas de Pedrinho", mas para que os alunos não tenham que ser OBRIGADOS a lê-lo. Tem uma enorme diferença aqui, que algumas pessoas convenientemente preferem não ver.

Porque isso é um problema? Convenhamos que é complicado você obrigar uma criança (que hoje já lê tão pouco) a ler justamente um livro com insultos e elementos racistas como o são alguns do Sítio do Pica-pau amarelo... especialmente se a criança em questão for NEGRA. É interessante: ainda não vi alguém, entre os que acham toda essa história "absurda", levantar esse prospecto -- da ofensa que uma criança negra possa sentir ao ler algum trecho, digamos, da boneca Emilia comparando Tia Anastácia a uma "macaca preta".

Minha impressão é que o tamanho do bafafá encima do caso se deve:
1. aos autoproclamados Paladinos  da Liberdade de Expressão aproveitando  oportunidade fácil para um palanque;
2. aos Paladinos do Patrimonialismo Cultural Brasileiro, sempre interditando que se critique figuras canonizadas e;
3. Pela moral conservadora geral de gente "mezzo" informada e incapaz de aceitar que coisas que lhe são familiares e tidas como "inofensivas" possam, sim, ter falhas morais mais nocivas do que se imaginava
4. Ao fato de, no fim, esse processo correr o risco de "difamar" uma das mais lucrativas franquias Globais de entretenimento infantil do Brasil.

Mas talvez eu mesmo esteja mal-informado, e esteja em curso um processo franco de demonização e censura do M. Lobato... Mas bem: quando alguém quiser queimar ou realmente proibir que crianças leiam seus livros, me avisem que vou lá na rua protestar.





* este post é uma versão de um outro feito no facebook no mesmo dia.