segunda-feira, 12 de novembro de 2007

SENHAS

eu não gosto do bom gosto
eu não gosto do bom senso
eu não gosto dos bons modos
não gosto

eu agüento até rigores
eu não tenho pena dos traídos
eu hospedo infratores e banidos
eu respeito conveniências
eu não ligo pra conchavos
eu suporto aparências
eu não gosto de maus tratos

eu não gosto do bom gosto
eu não gosto do bom senso
eu não gosto dos bons modos
não gosto

eu agüento até os modernos
e seus segundos cadernos
eu eu agüento até os caretas
e suas verdades perfeitas

eu não gosto do bom gosto
eu não gosto do bom senso
eu não gosto dos bons modos
não gosto

eu agüento até os estetas
eu não julgo competência
eu não ligo pra etiqueta
eu aplaudo rebeldias
eu respeito tiranias
e compreendo piedades
eu não condeno mentiras
eu não condeno vaidades

eu não gosto do bom gosto
eu não gosto do bom senso
eu não gosto dos bons modos
não gosto

eu gosto dos que têm fome
dos que morrem de vontade
dos que secam de desejo
dos que ardem...

Adriana Calcanhoto. Juro que não me lembro agora de alguma vez ter ouvido esta música.
Mas li a letra hoje, e achei do caralho.


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domingo, 11 de novembro de 2007

a questão (?) da arte

Um textinho mal-acabado, reflexão ainda crua. Mas já estava arquivada faz tempo, como é asunto complicado e lento de desenvolver, é colocar aqui ou se arriscar seriamente a deixar mofando na gaveta do lepitóp (junto com a crítica de 300, meu comentário sobre Tropa de Elite e, em especial, minha comparação bombástica entre Jesus Christ Superstar e Paixão...).
Bão...

Entre nós hoje em dia costuma vigorar predominantemente a idéia de arte como expressão: a expressão única de uma individualidade única, etc. atc. Aquilo que você, e apenas você, ente criativo, tem a dizer ao mundo... o que, na minha opinião, é reducionista.
Até autores inteligentíssimos como Scott Mcloud parecem dar certa predominância à arte-expressão individual (o que é normal sendo ele americano e, principalmente, falando ele para o público americano. Na minha cara-de-pau de falar sobre o que não sei, devo dizer que tenho a impressão de que essa idéia é predominante nos EUA desde o domínio do expressionismo abstrato, estabelecido há décadas atrás)
Bom, não é que a arte não seja isso. Só acho que isso não seja o seu primordial, sua “essência”. É mais uma questão de ênfase.
A questão da arte – e Adorno era um cara que compreendia isso – é, acima de tudo, da construção de um embate com o real. O Embate com a própria realidade, através do jogo direto com a linguagem, os sentidos e os significados – afinal, não há para nós qualquer realidade que não seja conhecida e vivida impregnada por essas mediações. Para esse embate, é necessária a “sagrada mentira” da arte, é necessário criar um espaço de autonomia.
A questão da autonomia da arte é tremendamente mal-compreendida. Toda vez que vejo gente reclamando de “torres de marfim” ou de que Adorno falava mal do jazz eu penso: putaquepariu, mais um que fala sobre o que não entendeu.
Li uma coisa recentemente que me chamou atenção para essa questão da má-compreensão do aspecto de “expressão pessoal” da arte, assim como me forneceu um exemplo esclarecedoramente “doméstico” de significados mais profundos de “autonomia”.
Numa inesperada entrevista com a artista plástica Adriana Varejão numa revista de generalidades “femininas” (moda-celebridades-saúde-boa forma e o caralho), a última pergunta da repórter lhe indagava se, depois de ter se tornado mãe, o trabalho dela tinha se tornado mais... “delicado”.
(detalhe: o trabalho de Varejão é, com freqüência, contundente e pertubador. Vide a imagem abaixo...)

Sem dizer sim ou não – que é o que menos interessava nessa situação – Varejão respondeu que não era assim que funcionava: seu trabalho não se relacionava diretamente com sua vida cotidiana, mas dialogava e bebia de “outras instâncias”. Na verdade, ela dizia, era seu trabalho que influenciava sua vida, que levava sua vida junto com ele, e não o contrário.
Ou seja, ela não aceitou a visão típica de revista-burguesa-genérica de que sua arte seria a “expressão” de uma “interioridade” formada em sua vida íntima – como se fosse ela alguma socialáite a descobrir um súbito amor pelo artesanato -- mas um campo outro, autônomo, de existência sua.
Pra gente ver que vale apena ficar atento a tudo. Quem esperaria achar uma resposta preciosa e direta dessas numa entrevistinha “de artista” numa revistinha vagabunda?


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Contra o cool

Tô numas de publicar uns textos de momento que já passaram, antes que fiquem completamente esquecidos ou inúteis. É mais pelo testemunho. Este, por exemplo, foi o registro de uma revolta momentânea e ardente que tive meses atrás, motivada principalmente pela ocasião de comprar dois exemplares da revista de Design gráfico Zupi (12 paus!), e ver meu investimento monetário desperdiçado em algo ruim.
Ainda vou reavaliar minha opinião. Mas, mesmo assim, vai aí o texto original, com toda a virulência.


Contra o cool. Contra todo o “descoladismo”

Não é tanto contra o cool em si. O problema é viver na Era da Empulhação.
Quando se trata de discurso, às vezes é bom, e às vezes é necessário, jogar o bebê fora junto com a água do banho. Não vou desenvolver essa frase estranha aqui, fica pruma próxima ocasião.

Mas já me é insuportável a quantidade de gente posando de cool. Revistas como Zupi e Simples me impressionaram: um grande esforço em ter um jeitão descolado, um nível baixísimo de reflexão, de pensamento e argumentação de verdade.
Como é rara a união de um raciocínio gráfico e estético com argumentação à altura!
Não é simples questão de quantidade, vejam bem – embora exista sempre uma quantidade mínima de palavras (variável dependendo do assunto e óptica, claro) para que um raciocínio seja desenvolvido. Principalmente se este se pretende relevante e original.

O que se vê? Truísmos, palavras de efeito, meia dúzia de frases que pretendem se passar por inteligentes e/ou profundas.
Talvez nem seja tanto a culpa dos indivíduos participantes, às vezes: é também muito da linha editorial, da tendência ao opinionismo sem regras ou rigor que se confunde com liberdade e “dinamismo”... enfim, “descoladismo”.

Uma boçalidade.

Não acredito em verdade, mas acredito em honestidade e em rigor.

(viu? Frase de efeito não é lá muito difícil. Mesmo quando é sincera e diz algo bom, vejam bem. E aí está o perigo: a frase de efeito pode ser usada para dizer verdades sublimes; mas aí uma grande quantidade de pessoas passam a achar que a verdade sublime está na frase de efeito, quando esta é apenas um canal... e aí, passam a ser presa fácil para a empulhação)

Enfim: ABAIXO AOS POSERS DE TODO O MUNDO.
QUE VOCÊS QUEIMEM NO INFERNO, MERDINHAS.

(A idéia de justiça divina é tentadora nesses casos: só pra acreditar que ALGUÉM no universo sabe que eles são falsários e fará com que eles se fodam no final.)



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Pieguice

Andam mais chatos. Menos imaginação, muito "we are the world" musical e etc. Mas ainda assim, me dei conta outro dia da habilidade, da formidável imagem de alguns dos versos.
Freedom has a scent
Like the top of a new-born baby’s hand
ESSE é o tipo de pieguice que me emociona.
É de uma delicadeza, uma sutileza que só alguém que sabe em primeira mão o que é ser pai pode ter.
(isso, claro, na opinião de um besta como eu, que nem filho tem!...)
Bão, U2 sempre foi um grupo muito família.

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Listen to the Music (again)

A Rush Of Blood To The Head
Coldplay

He said I'm gonna buy this place and burn it down
I'm gonna put it six feet underground
He said I'm gonna buy this place and watch it fall
Stand here beside me baby in the crumbling walls

Oh I'm gonna buy this place and start a fire
Stand here until I fill all your heart's desires
Because I'm gonna buy this place and see it burn
Do back the things it did to you in return

Ah, ah, ah Ah, ah, ah

He said I'm gonna buy a gun and start a war
If you can tell me something worth fighting for
Oh and I'm gonna buy this place, that's what I said
Blame it upon a rush of blood to the head

HONEY, all the movements you're starting to make
See me crumble and fall on my face
And I know the mistakes that I made
See it all disappear without a trace
And they call as they beckon you on
They said start as you mean to go on
Start as you mean to go on

He said I'm gonna buy this place and see it go
Stand here beside my baby watch the orange glow
Some'll laugh and some just sit and cry
You just sit down there and you wonder why
So I'm gonna buy a gun and start a war
If you can tell me something worth fighting for
And I'm gonna buy this place, that's what I said
Blame it upon a rush of blood to the head
Oh to the head

HONEY all the movements you're starting to make
See me crumble and fall on my face
And I know the mistakes that I made
See it all disappear without a trace
And they call as they beckon you on
They say start as you mean to go on
As you mean to go on, as you mean to go on

So meet me by the bridge, meet me by the lane
When am I gonna see that pretty face again
Meet me on the road, meet me where I said
Blame it all upon
A rush of blood to the head


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sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Tapa na cara








“O Tempo estava claro e ensolarado quando a equipe da Revista O GLOBO chegou ao piscinão de São Gonçalo. A idéia era fazer um ensaio de moda com óculos escuros e alguns acessórios, usando os próprios freqüentadores do lugar como modelos. De cara, os donos do pedaço entraram na onda: como se vê, não faltaram voluntários para fazer bonito diante da câmera.”












Agradecimentos a Eliana Kuster por mais este tapa na cara.



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Na falta do que dizer...

... mais desenhos antigos.

Da série Vida Universitária 1998-2002: Desenhos sonolentos.
























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